quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Desejos, sonhos, palavras





Não sou dona de nada
Vontades, desejos, sonhos que não comando
Sentimentos são tesouros a partilhar
Os nossos estão perdidos em palavras..        


Amamo-nos nos sonhos mais proibidos
Numa eternidade decadente.
O que mais me dói é saber;
que eu e tu nunca seremos nós!
Não passamos de um sonho..
Um sonho proibido!

D
ivine    











 SONETO                               Pablo Neruda


Les deux amants heureux



Une goutte de lune, une seule, dans l'herbe,
ils laissent en marchant deux ombres qui s'unissent,
dans le lit leur absence est un seul soleil vide.


Leur seule vérité porte le nom du jour:
ils sont liés par un parfum, non par des fils,
ils n'ont pas déchiré la paix ni les paroles.
Et leur bonheur est une tour de transparence.


L'air et le vin accompagnent les deux amants,
la nuit leur fait un don de pétales heureux,
aux deux amants reviennent de droit les oeillets.


Les deux amants heureux n'auront ni fin ni mort,
ils naîtront et mourront aussi souvent qu'ils vivent
ils possèdent l'éternité de la nature.





Soneto XLVIII Dois amantes felizes

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama.

De todas as verdades escolheram o dia:
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A ventura é uma torre transparente.

O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
têm direito a todos os cravos.

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem,
têm da natureza a eternidade.

Pablo Neruda

vida, inicio,satisfação

ANO NOVO, DE NOVO!  (Autoria: SÔNIA MOURA)
                                                                                                  
Sempre que eu libertar o desejo
E todos os botões de sua camisa
Seja meia-noite, ou seja meio-dia
Ou seja, ainda, na madrugada fria,
Será ano novo
De novo!

Toda vez que você libertar minha fantasia
E o zíper do meu novo ou velho vestido
Seja meia-noite, ou seja meio- dia
Ou seja, ainda, na quente madrugada,
Será ano novo
De novo
De novo!                                                                                   

Nos momentos que desvelarmos os prazeres
Da paixão e suas magias
Seja meia-noite, ou seja meio-dia
Ou seja, ainda na suave madrugada,
Será ano novo
De novo!

(Do livro: COISAS DE MULHER de Sônia Moura)

sábado, 25 de dezembro de 2010

de Mãos Dadas



Mãos dadas (Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



Neste poema o poeta reafirma a sua consciência da existência de outros homens, seus companheiros. Com eles é que se sente de mãos dadas, e renunciou aos seus temas pessoais: uma mulher, uma história, a paisagem vista da janela. Não mais se refugiará na solidão porque o que lhe interessa é o tempo presente em que se acha inserido, e os homens que o cercam.
 
O poema "Mãos dadas" anuncia a utópica e festiva solidariedade humana.
Como um ativista dos direitos humanos Drummond muitas vezes nega a influência do mundo moderno em sua obra, é o fugir do individual e o olhar para o coletivo e a solidariedade.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Esquecer ou Amar.














Si tu m'oublies j e veux que tu saches une chose.

Tu sais ce qu’il en est:
si je regardela lune de cristal, la branche rouge
du lent automne de ma fenêtre, si je touche
près du feu la cendre impalpable ou le corp ridé du bois, tout me mène à toi, comme si tout ce qui existe, les arômes, la lumiére, les méteaux, étaient de petits bateaux qui naviguent vers ces îles à toi qui m’attendent.

Cependant,si peu à peu tu cesses de m'aimer
je cesserai de t’aimer peu à peu.
Si soudain tu m'oublies ne me cherche pas,
puisque je t’aurai aussitôt oubliée.

Si tu crois long et fou le vent de drapeaux 
qui traversent ma vie et tu décide de me laisser 
 au bord du coeur où j'ai mes racines,
pense que ce jour-là à cette même heure,
je lèverai les bras et mes racines  sortiront
chercher une autre terre.

Mais se tous les jours, à chaque heure
tu sens que tu m’es destinée avec une implacable
douceur.Si tous les jours monte une fleur à tes lèvres me chercher,
ô mon amour, ô mienne, en moi tut ce feu se répète, destine
en moi rien ne s’éteint ni s’oublie,mon amour se nourrit a ton amour,
 ma belle, et durant ta vie il sera entre tes bras sans   
                                     
 s’échapper des miens.






Se você me esquecer
Eu quero que você saiba alguma coisa.
Você sabe que é o fogo,
se eu olhar a Lua de cristal, os ramos rubros
do lento outono em minha janela, se eu  for tocada pelo fogo, Terá a implacavel cinza ou o enrugado corpo da madeira.Tudo me leva a você, como se tudo o que existe, aromas, luz, metais fossem pequenos barcos que navegam em direção às tuas ilhas que me esperam. É fogo com fogo.


No entanto, se pouco a pouco você deixar de me amar. 
Eu vou parar de te amar pouco a pouco, se
você me esquecer. Eu não te procuro, pois  
já te esqueci. Se de repente você pensar ao longo e louco o vento da bandeira que passa pela minha vida, que é ser amada pelo fogo que e você  e decidir  deixar-me só  no cantinho  do  teu coração, no qual  tenho raízes.
É  neste dia, ao mesmo tempo, meus  braços e minhas raízes  partirão a buscar outra terra.

Mas se diariamente de hora em hora
você sente que você está destinado para mim
com doçura implacável .

Se cada dia que passa,  eu for uma flor em teus lábios.
Ó meu amor! oh, meu amado !

Há em mim todo esse fogo que
se repete, nada é extinto ou esquecido.
 O meu amor se alimenta do seu amor, que  deseja durante toda vida ..


 estar em seus braços.


esquecer,destino

Felicidade

Os olhos do amado
Esqueceram-se nos teus,
Perdidos em sonho.




Queixa          

    Helena Kolody


        Tu, Senhor , que reparte os destinos:
Por que me destes o árido quinhão
De sonho, tristeza e solidão? 










Sombra no Muro

Persigo um pássaro
e alcanço, apenas,
no muro,
a sombra de um voo.

Minha Ventura

Minha ventura se chama saudade
e tem o teu rosto.
              






 Para não te esquecer






Ontem, vi alguém
que tinha os teus olhos
e voltei a sofrer.
Era como se os tivesse deixado
deste lado
para eu não te esquecer.






Helena Kolody


domingo, 19 de dezembro de 2010

sonho ideal amando



Solidão é quando o coração, 
se não está vazio, sobra lugar nele que não acaba mais.
Antonio Maria


     O Só quando conheci a sabedoria 
me arrependi de não seguir o que meu coração pedia


Fernado Pessoa

    Todas as cartas de amor são ridículas.
    Não seriam cartas de amor  se não fossem ridículas.
    Também escrevi,  no meu tempo, cartas de amor  como as outras, ridículas.
    As cartas de amor, se há amor,  têm de ser ridículas .
    Quem me dera o tempo,   em que eu escrevia sem dar por isso,  cartas de amor, ridículas.
    Afinal,só as criaturas que nunca escreveram  Cartas de amor É que são ridículas…








Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda você que  seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,          
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar “.
 Vitor Hugo